Os
autores da idéia são os geofísicos Steven Ward (Universidade da
Califórnia em Santa Cruz) e Simon Day (University College de Londres).
Eles
publicaram em 2001 no periódico "Geophysical Research Letters" uma
simulação mostrando o que aconteceria se entrasse em colapso uma parte
do vulcão Cumbre Vieja, no arquipélago das Canárias, a menos de 200 km
da costa noroeste da África.
Uma avalanche de 500 km3 de terreno dentro do oceano elevaria a água cerca de 900 m, concluíram os computadores de Ward e Day.
A
oscilação se propagaria em ondas sucessivas, cada vez menores, por todo
o Atlântico. Fora as ilhas, o primeiro estrago seria sentido uma hora
depois na costa africana, com tsunamis de 50-100 m.
No que toca
ao Brasil, o estrago ocorreria seis horas depois do colapso do vulcão.
Iria de Fernando de Noronha e da Paraíba até o Amapá. Ondas de 4 m a
18 m se abateriam sobre capitais como Fortaleza, Natal, João Pessoa e
São Luís.
Vários pesquisadores brasileiros conheciam a pesquisa
de Ward e Day e a mencionaram logo após a tragédia na Ásia. Um dos
primeiros foi o físico Celso Pinto de Melo, da Universidade Federal de
Pernambuco, que escreveu um artigo para o informativo "Jornal da
Ciência".
Melo afirmava no texto que as probabilidades de um
evento desses seriam "minúsculas", mas que, na escala geológica de tempo
(milhões de anos), até as coisas mais improváveis acabam acontecendo.
Lembrou
que a vila de São Vicente, no litoral paulista, foi assolada em 1542,
pouco após sua fundação, por ondas que se supõe tenham alcançado 8 m de
altura e avançado 150 m terra adentro.
Um dos poucos cientistas
interessados em tsunamis no Brasil é o geofísico peruano Jesús Berrocal,
66, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da
USP.
Ele está preparando para as usinas nucleares de Angra dos
Reis (RJ) um estudo sobre o risco de tsunamis na costa leste do Brasil e
agora foi convidado a apressá-lo.
Além disso, vai participar em
Portugal de um evento em memória dos 250 anos do terremoto de 1755 em
Lisboa, em que a maioria das mortes teria sido causada pela onda gigante
que se seguiu -o único grande exemplo de tsunami no Atlântico.
Segundo Berrocal, o risco de uma tsunami no Brasil "é muito pequeno, mas não é zero".
O
fato é que os tsunamis são muito raros no Atlântico, pois 80% delas
ocorrem no Pacífico. Os dados indicam que ondas acima de 7,5 m ocorrem a
intervalos médios de 15 anos, segundo informou o sítio news@nature.com.
Segundo
o Centro Benfield de Pesquisa de Riscos de Londres, ondas de 10 m ou
mais ocorrem só a cada mil anos no Atlântico Norte, no Caribe e no
Índico (onde ocorreu a tragédia).
O tempo cai para 250 anos no caso do Alasca e da costa pacífica da América do Sul, e 200 anos, no do Havaí.
O
maior tsunami de que se tem notícia também atingiu o Brasil, com ondas
de 20 metros de altura arrasando o litoral do Nordeste. Felizmente não
havia nenhum ser humano por lá: a tragédia ocorreu há 65 milhões de
anos, no final da era dos dinossauros. Sua única memória está guardada
em um paredão de calcário no litoral de Pernambuco, que seu descobridor
quer ver preservado como monumento geológico nacional.
O
megatsunami foi um dos efeitos imediatos da queda do asteróide que
eliminou os dinossauros e mais metade da vida no planeta, encerrando a
chamada Era Mesozóica e o reinado dos grandes répteis sobre a Terra.
No
Brasil ele até que foi suave. Mas, nas imediações do local do impacto, a
península de Yucatán, no México, formaram-se ondas de até 1 quilômetro
de altura, que destruíram completamente o Haiti e partes do litoral
mexicano e norte-americano.
O cataclismo foi tão grave –estima-se
que o impacto tenha liberado, instantaneamente, uma energia equivalente
a 10 mil vezes a explosão de todo o arsenal nuclear do planeta– que
mudou a geologia do continente. Os escombros do maremoto foram
preservados nas rochas da região afetada, o que tornou possível aos
cientistas estabelecer o local da queda, a cratera de Chicxulub.
Maria Farinha
As
primeiras evidências do tsunami no Brasil foram encontradas pelo
geólogo Gilberto Athayde Albertão, da Petrobras. Estudando as rochas
calcárias da chamada formação Maria Farinha, no litoral de Pernambuco e
Paraíba, o cientista descobriu uma série de anomalias ligadas ao impacto
que extinguiu os dinossauros e à onda monstruosa provocada por ele.
Trata-se
do único local em toda a América do Sul onde foi encontrado um registro
geológico da chamada fronteira K-T (Cretáceo-Terciário), o limite entre
as eras marcado pelo choque do asteróide. Entender esse limite é
fundamental para a compreensão de como evoluiu a vida na Terra, pois ele
encerra uma das maiores extinções em massa da história.
As
evidências da fronteira K-T têm sido encontradas em lugares tão
diferentes quanto a Itália, a Dinamarca e a Nova Zelândia. Elas
consistem principalmente em microesférulas (grãos de vidro microscópicos
produzidos pelo calor do impacto e lançados na atmosfera), no chamado
quartzo de impacto (cristais também transformados pelo choque) e em
níveis anormais de irídio, um elemento químico raro trazido à Terra por
meteoritos.
Tais pistas nunca haviam sido localizadas na África
ou na América do Sul, o que levou alguns céticos a duvidar da hipótese
da queda de asteróide como causadora da extinção dos dinossauros.
No
meio dos anos 90, Albertão, então aluno de mestrado na Universidade
Federal de Ouro Preto, se lançou à busca. “Achei que fosse estar
procurando uma agulha no palheiro”, recorda-se. “Tinha todas as bacias
sedimentares do país para procurar.”
Maremoto
O
pesquisador foi levado a Pernambuco após o levantamento de todas as
rochas suspeitas de abrigar a fronteira K-T na base de dados da
Petrobras. Foi parar na pedreira Poty, uma mina de calcário a 2
quilômetros do mar no município de Paulista, perto de Recife.
O
local já havia sido estudado por paleontólogos (especialistas em
fósseis) da Universidade Federal de Pernambuco. E havia coisas estranhas
ali: fósseis de foraminíferos, animais marinhos microscópicos cujas
carapaças compõem a rocha calcária, eram substituídos por outras
espécies de repente ao longo do paredão rochoso.
Uma análise
química realizada nos EUA confirmou que, em um certo ponto da rocha,
havia 69 vezes mais irídio do que no restante dela. E as microesférulas
de vidro estavam lá.
Mas não foi só: Albertão também encontrou no
nível das anomalias fragmentos de rocha e fósseis de vários tamanhos
diferentes misturados à rocha, numa maçaroca que dava a impressão de que
algum evento catastrófico havia revolvido completamente o fundo do mar
–um maremoto.
Em um artigo científico publicado em 1996 no
periódico “Sedimentary Geology”, Albertão calculou a altura e a
velocidade das ondas capazes de produzir uma perturbação tão grande: 20
metros e 112 km/h. Agora, ele prepara uma descrição mais detalhada do
tsunami, a ser publicada até 2007 num livro pela editora holandesa
Elsevier.
O cientista tenta desde 2003 transformar o paredão da
pedreira Poty num sítio do patrimônio geológico nacional. O comitê do
patrimônio já aceitou a proposta. “Mas é preciso anuência da empresa e a
sensibilização das autoridades locais para fazer um projeto de
preservação ali”, conta.
Os resultados seriam bem parecidos com o
que você viu na televisão, nas revistas e na internet desde o dia 26 de
dezembro. Milhares de pessoas desabrigadas. Corpos sendo resgatados em
alto-mar. Crianças órfãs, plantações destruídas e outra infinidade de
mazelas que as catástrofes naturais têm uma habilidade única de
provocar.
Mas um tsunami como o da Ásia é quase impossível de
acontecer por aqui. Lá, a seqüência de ondas gigantes foi resultado de
um terremoto provocado pelo movimento das placas tectônicas Australiana e
Eurasiana. As placas tectônicas, encaixadas como num gigantesco
quebra-cabeça, formam um manto sobre o magma, a camada do centro da
Terra composta por rochas em estado fluido.
Quando uma dessas
placas raspa ou se encosta em outra, nós sentimos tremores nos
continentes. Se isso ocorre no fundo do mar, a energia liberada forma
uma onda, que vai se propagando até atingir terra firme. Foi exatamente o
que ocorreu no sul da Ásia. “Já o Brasil, para nossa sorte, está
localizado bem no centro de uma placa e, mesmo quando ela se move,
provoca apenas abalos de pouca intensidade”, diz o professor de
engenharia oceânica da UFRJ Paulo Cesar Rosman.
Acontece que
terremotos no fundo do mar não são a única razão para o surgimento de um
tsunami. Quedas de meteoros e erupções vulcânicas também podem gerar
ondas gigantes.
Nesses casos, a força do tsunami depende do
tamanho do material que é arremessado ao mar. Se você acha que escapamos
mais uma vez, engana-se. O pesquisador Steven Ward, da Universidade da
Califórnia, é autor de um estudo sobre o impacto que uma erupção do
vulcão Cumbre Vieja poderia causar nas Américas. O vulcão está
localizado na ilha La Palma, no arquipélago das Ilhas Canárias, perto da
costa africana.
De acordo com Ward, uma próxima erupção pode
fazer parte da ilha deslizar e cair no mar. Essa queda produziria uma
energia tão grande que, em poucas horas, ondas gigantescas se formariam e
destruiriam várias ilhas do Caribe, alguns estados americanos e o Norte
e Nordeste brasileiros. “Ninguém sabe ao certo quando o Cumbre Vieja
pode entrar em erupção”, diz o pesquisador americano. “Ele entrou em
colapso há 550 mil anos.
Desde então, reconstruiu-se e pode estar
voltando novamente ao fim de seu ciclo.” Como o Brasil não tem sistema
de alarme de tsunami, moradores e turistas seriam pegos de surpresa,
repetindo as cenas trágicas que aconteceram no último ano na Ásia.
Nem tão fantástico
O geofísico Steven Ward acredita que um tsunami pode,sim, chegar ao Brasil
1. Pontapé inicial
Uma
erupção do vulcão Cumbre Vieja, na ilha La Palma, jogaria no mar um
pedaço de terra com 500 km3. A queda provocaria a formação de ondas
gigantes
2. Comprida para danar
O intervalo entre
uma onda e outra seria de apenas 10 minutos. Logo que começassem a se
formar, cada uma delas teria 120 quilômetros de comprimento
3. Primeiro alvo
Em apenas 1 hora, as ondas chegariam a uma velocidade de 720 km/h e atingiriam a costa do Marrocos com elevações de 100 metros
4. Reta final
Enquanto
viajam pelo mar, as ondas perdem velocidade e ficam menores em
comprimento. Já a altura cresce à medida que elas se aproximam da costa
Nossos cartões-postais seriam bem diferentes
A. Belém - Embaixo d’água
As
ondas seriam fatais para cidades baixas, como a capital do Pará. “A
parte mais alta de Belém tem só 30 metros de altura. O famoso Mercado
Ver-O-Peso, por exemplo, ficaria encoberto por água”, diz José Geraldo
Alves, do centro de geociências da Universidade Federal do Pará
B. Jericoacoara - Adeus às dunas
As
ondas arrastariam estruturas sem raízes fixas, como bancos de areia.
Uma energia tão grande quanto a de um tsunami faria em minutos o
trabalho de anos do vento e é bem possível que as dunas fossem varridas
do mapa
C. Fernando de Noronha - Matança animal
A
vida marinha no arquipélago, atingido em cheio, seria muito afetada. O
impacto da água poderia destruir os corais e, com isso, modificar todo o
ecossistema. Dezenas de espécies de animais poderiam morrer. Entre
eles, muitos golfinhos, símbolos do local
D. Porto de Cabedelo, Hotel Tambaú e Estação Ciência
Os
primeiros lugares que registraria o impacto devastador da onda gigante,
seria as construções do Porto de Cabedelo, Moinho Dias Branco, Hotel
Tambaú e Estação Ciência, Cultura e Artes.
E. Jacumã, o Mussulo Beach Resort by Mantra não corre o risco de ser atingido pois fica acima do limite de risco.
Sem Disney World
O
Brasil não será a única vítima das ondas gigantes nas Américas. O
tsunami também pode levar à destruição das ilhas caribenhas e de alguns
estados americanos, como a Geórgia e a Flórida, que serão atingidos nove
horas após o início do tsunami
Destruição nacional
As
ondas que atingiriam o Norte e o Nordeste teriam 20 metros de altura e 6
quilômetros de comprimento. “Elas levarão tudo o que estiver perto da
costa. Em locais onde a topografia é baixa, podem alcançar até 10
quilômetros território adentro”, diz Steven Ward.
Segundo a meteorologista Marle Bandeira, a previsão de chuvas com
intensidade de moderada a forte é uma realidade, mas a população não
deve ficar temerosa
A Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa) confirmou, ao
Portal,
nesta sexta-feira (7), a possibilidade de fortes chuvas para as
próximas horas na faixa litorânea da Paraíba, mas alertou para o
'alarde' indevido provocado por compartilhamentos em redes sociais.
Mensagens que circulam desde essa quinta-feira (6) falam na "formação de
tempestades" e “maior chuva dos últimos 50 anos”.
“A tempestade está se retroalimentando. Vai chover forte por pelo
menos mais dois dias, com chuvas acima de 200 milímetros. Se confirmado,
será um ciclo fora do modelo e diria que existe risco de registros
localizados de maior volume em período de 50 anos”, diz o texto que tem
sido espalhado na internet.
Segundo
a meteorologista Marle Bandeira, a previsão de chuvas com intensidade
de moderada a forte é uma realidade, mas a população não deve ficar
temerosa. Ela explica que chuvas fortes são normais nesta época do ano.
Ainda de acordo com a profissional, as imagens compartilhadas são de um
sistema meteorológico que já se desfez.
"Existe a possibilidade
de chuvas, mas não é necessário esse alarde todo. Há uma aglomeração de
nuvens que vêm do oceano com direção à costa leste, só que não é
possível prever a quantidade exata em milímetros. A Aesa está com
monitoramento 24 horas dos sistemas meteorológicos e em contato
constante com a Defesa Civil, para emissão de possíveis alertas”,
explicou.
Alerta
Na manhã dessa quinta, o
Centro Virtual para Avisos de Eventos Meteorológicos Severos para o Sul
da América do Sul (Alert-AS) já havia colocado
João Pessoa e mais 67 cidades em área com perigo de acumulado de chuvas.
À
noite, foi a vez da concessionária de energia elétrica Energisa
comentar os riscos. A empresa divulgou que verificou chance de chuvas
acompanhadas de raios para esta sexta-feira e sábado (8). De acordo com o
comunicado, cuidados com equipamentos elétricos devem ser reforçados. A
Energisa orienta que aparelhos sejam desligados.
Nesta
sexta, a Defesa Civil de João Pessoa reforçou que continua em alerta
para possíveis transtornos. O órgão disse que levará em conta os avisos
emitidos pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres
Naturais (Cemaden), cujo site estava fora do ar até a publicação desta
matéria.
Os alertas emitidos pelo Cemaden possuem quatro níveis
de risco: leve, moderado, alto e muito alto.
“Quando uma região com
risco elevado de incidentes como deslizamentos e enxurradas é visitada
por frentes frias ou por concentrações de nuvens que podem gerar
pancadas de chuvas, o aviso é emitido imediatamente. A Defesa Civil está
de prontidão para tomar as providências cabíveis caso recebamos
qualquer aviso da Cemaden”, informou o coordenador Noé Estrela.
Da Redação com Informações com Folha e Revista Superinteressante, Aesa e Correio